quarta-feira, 14 de abril de 2010


Bento XVI celebrou a Vigília Pascal na Basílica de São Pedro

Cristo único caminho para a imortalidade
procurada pelo homem


No Baptismo é oferecido o remédio da imortalidade. Começa assim uma nova vida, que nem sequer a morte pode cancelar. Afirmou Bento XVI na homilia da Vigília pascal celebrada na noite de sábado, 3 de Abril, na Basílica de São Pedro.

Amados irmãos e irmãs!
Uma antiga lenda judaica, tirada do livro apócrifo "A vida de Adão e Eva", conta que Adão, durante a sua última enfermidade, teria mandado o filho Set juntamente com Eva à região do Paraíso buscar o óleo da misericórdia, para ser ungido com este e assim ficar curado. Aos dois, depois de muito rezar e chorar à procura da árvore da vida, aparece o Arcanjo Miguel para dizer que não conseguiriam obter o óleo da árvore da misericórdia e que Adão deveria morrer. Mais tarde, os leitores cristãos adicionaram a esta comunicação do Arcanjo, uma palavra de consolação. O Arcanjo teria dito que, depois de 5.500 anos, viria o benévolo Rei Cristo, o Filho de Deus, e ungiria com o óleo da sua misericórdia todos aqueles que acreditassem nele. "O óleo da misericórdia para toda a eternidade será dado a quantos deverão renascer da água e do Espírito Santo. Então, o Filho de Deus rico de amor, Cristo, descerá às profundezas da terra e conduzirá o teu pai ao Paraíso, para junto da árvore da misericórdia". Nesta lenda, faz-se palpável toda a aflição do homem diante do destino de enfermidade, dor e morte que nos foi imposto. Torna-se evidente a resistência que o homem oferece à morte: em algum lugar repetidamente pensaram os homens deveria existir a erva medicinal contra a morte. Mais cedo ou mais tarde, deveria ser possível encontrar o remédio não somente contra as diversas doenças, mas contra a verdadeira fatalidade contra a morte. Deveria, em suma, existir o remédio da imortalidade. Também hoje, os homens andam à procura de tal substância curativa. A ciência médica atual, incapaz de excluir a morte, procura, contudo, eliminar o maior número possível das suas causas, adiando-a sempre mais; procura uma vida sempre melhor e mais longa. Mas, pensemos um pouco: caso se conseguisse quiçá não excluir totalmente a morte mas adiá-la indefinidamente, como seria chegar a uma idade de várias centenas de anos? Isto seria bom? A humanidade envelheceria numa medida extraordinária; não haveria lugar para a juventude. A capacidade de inovação se apagaria e uma vida interminável não seria um paraíso, mas uma condenação. A verdadeira erva medicinal contra a morte deveria ser diversa. Não deveria levar simplesmente a uma prolongação indefinida desta vida atual. Deveria transformar a nossa vida a partir do interior. Deveria criar em nós uma vida nova, verdadeiramente capaz de eternidade: deveria transformar-nos de tal modo que não terminasse com a morte, mas com ela iniciasse em plenitude. A novidade impressionante da mensagem cristã, do Evangelho de Jesus Cristo era, e ainda é, dizer-nos isto: sim, esta erva medicinal contra a morte, este autêntico remédio da imortalidade existe. Foi encontrado. É acessível. No Batismo, este medicamento é-nos dado. Uma vida nova começa em nós, uma vida nova que amadurece na fé e não é cancelada pela morte da vida velha, mas só então se tornará plenamente visível.
Ouvindo isto alguns, quiçá muitos, responderão: a mensagem sim, eu escuto, mas falta-me a fé. E, mesmo quem quer acreditar perguntará: mas, é verdadeiramente assim? Como devemos imaginá-la? Como se realiza esta transformação da vida velha, de tal modo que nela se forme a vida nova que não conhece a morte? Mais uma vez, um antigo escrito judaico pode nos ajudar a ter uma ideia daquele processo misterioso que tem início em nós no Batismo. Neste escrito se conta que o patriarca Henoc foi arrebatado até ao trono de Deus. Mas, ele se atemorizou à vista das gloriosas potestades angélicas e, na sua fraqueza humana, não pôde contemplar a Face de Deus. "Então Deus disse a Miguel assim continua o livro de Henoc "Toma Henoc e tira-lhe as vestes terrenas. Unge-o com o óleo suave e reveste-o com vestes de glória!". E, Miguel tirou as minhas vestes, ungiu-me com óleo suave; este óleo possuía algo mais que uma luz radiosa... O seu esplendor era semelhante aos raios do sol. Quando me vi, eis que eu era como um dos seres gloriosos" (
Ph. Rech, Inbild des Kosmos, ii 524).
Isto mesmo ser revestidos com a nova veste de Deus verifica-se no Batismo; assim nos ensina a fé cristã. É verdade que esta mudança das vestes é um percurso que dura toda a vida. Aquilo que acontece no Batismo é o início de um processo que abarca toda a nossa vida torna-nos capazes de eternidade, de tal modo que, na veste de luz de Jesus Cristo, podemos aparecer diante de Deus e viver com Ele para sempre.
No rito do Batismo, há dois elementos nos quais este evento se expressa e torna visível, também como exigência para o resto da nossa vida. Em primeiro lugar, temos o rito das renúncias e das promessas. Na Igreja Antiga, o batizando virava-se para ocidente, símbolo das trevas, do pôr-do-sol, da morte e, portanto, do domínio do pecado. O batizando virava-se para aquela direção e pronunciava um tríplice "não": ao diabo, às suas pompas e ao pecado. Com a estranha palavra "pompas", ou seja, o fausto do diabo, indicava-se o esplendor do antigo culto dos deuses e do antigo teatro, onde a diversão era ver pessoas vivas sendo dilaceradas pelas feras. Portanto, este "não" era o repúdio de um tipo de cultura que acorrentava o homem à adoração do poder, ao mundo da cobiça, à mentira, à crueldade. Era um ato de libertação da imposição de uma forma de vida que se apresentava como prazer e, contudo, levava à destruição daquilo que no homem são as suas melhores qualidades. Esta renúncia com um comportamento menos dramático constitui ainda hoje uma parte essencial do Batismo. Assim removemos as "vestes velhas", com as quais não se pode estar diante de Deus. Por outras palavras: começamos a depô-las. Com efeito, esta renúncia é uma promessa na qual damos a mão a Cristo, para que Ele nos guie e revista. Quais sejam as "vestes" que depomos e qual seja a promessa que pronunciamos fica claro quando lemos, no quinto capítulo da Carta aos Gálatas, aquilo que Paulo denomina "obras da carne" termo que significa precisamente as vestes velhas que devem ser depostas. Paulo as designa assim: "fornicação, libertinagem, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a essas" (
Gl 5, 19 ss.). São estas as vestes que depomos; são vestes da morte.
Em seguida, o batizando na Igreja Antiga se virava para oriente símbolo da luz, símbolo do novo sol da história, novo sol que se levanta, símbolo de Cristo. O batizando determina a nova direção da sua vida: a fé em Deus Trino, a quem ele se oferece. Assim, o próprio Deus nos veste com o traje de luz, com a veste da vida. Paulo chama a estas novas "vestes" "fruto do Espírito" e as descreve com as seguintes palavras: "caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade, mansidão, continência" (
Gl 5, 22).
Na Igreja Antiga, depois o batizando era verdadeiramente despojado das suas vestes. Descia à fonte batismal e era imerso por três vezes um símbolo da morte que significa toda a radicalidade deste despojamento e desta mudança de veste. Esta vida, que em todo o caso já está destinada à morte, o batizando a entrega à morte, junto com Cristo, e por Ele se deixa arrastar e elevar para a vida nova, que o transforma para a eternidade. Depois subindo das águas batismais, os neófitos eram revestidos com a veste branca, a veste luminosa de Deus, e recebiam a vela acesa como sinal da vida nova na luz que Deus mesmo acendera neles. Eles sabiam que tinham obtido o remédio da imortalidade, que agora, no momento de receber a sagrada Comunhão, tomava a sua forma plena. Na Comunhão, recebemos o Corpo do Senhor ressuscitado e nós mesmos somos atraídos para este Corpo, de tal modo que ficamos já guardados por Aquele que venceu a morte e nos conduz através da morte.
No decorrer dos séculos, os símbolos tornaram-se mais escassos, mas o acontecimento essencial do Batismo continua sendo o mesmo. Este não é apenas um lavacro, e menos ainda uma recepção um pouco complicada numa nova associação. O Batismo é morte e ressurreição, renascimento para a nova vida.
Sim, a erva medicinal contra a morte existe. Cristo é a árvore da vida, que se fez novamente acessível. Se aderirmos a ele, então estamos na vida. Por isso, nesta noite da ressurreição, cantaremos com todo o coração o aleluia, o canto da alegria que não tem necessidade de palavras. Por isso, Paulo pode dizer aos Filipenses: "alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!" (
Fl 4, 4). Não se pode comandar a alegria. Somente pode ser dada. O Senhor ressuscitado nos dá a alegria: a verdadeira vida. Já estamos protegidos para sempre guardados no amor daquele a quem foi dado todo o poder no céu e na terra (cf. Mt 28, 18). Assim, seguros de ser escutados, peçamos como diz a oração sobre as oferendas que a Igreja eleva nesta noite: Acolhei, ó Deus, com estas oferendas as preces do vosso povo, para que a nova vida, que brota do mistério pascal, seja por vossa graça penhor da eternidade. Amém.


(©L'Osservatore Romano - 10 de Abril de 2010)

domingo, 11 de abril de 2010



PÁSCOA
Um Deus que passa para ficar!


Eis o tempo da Alegria! Renovam-se as estações no horizonte da nossa Fé. Eis que surge um tempo novo... o sepulcro está vazio. No Cristo, a Vida canta vitória sobre a morte, tornando-se para nós a bússola e o compasso que nos orienta nos caminhos do Cristianismo. Movidos pela certeza de que cantaríamos um canto novo, nos preparamos 40 dias para fazê-lo ecoar na humanidade inteira. Preparamo-nos vivendo um tempo de reformas e construções do nosso coração, pois por ele depois dos 4o dias haveria de ter uma passagem toda especial. A preparação nos recordou que para esta digna passagem nada mais sensato que arrumar e refazer a casa por meio daquilo que é próprio do tempo quaresmal: as orações, jejuns e tantas outras práticas.

Depois deste tempo de deserto, agora é tempo das flores do Aleluia se abrirem, pois durante 50 dias em nossa Liturgias, celebraremos a Páscoa, atualizaremos uma fascinante passagem. Falo assim, porque gosto da beleza escondida no universo das palavras, pois se bem exoplorado, nos sugere explicações simples, mas de muito sentido. A palavra PÁSCOA, por exemplo, tem sua raiz exatamente no hebraico - PESSACH - da festa judaica, que recorda a passagem da escravatura no Egito para a liberdade na Terra prometida. Outra interessante explicação é a sugerida no contexto das celebrações pagãs - a passagem do inverno para a primavera.

No cenário do Cristianismo, à medida que celebramos a passagem, nossa fé vai compreendendo que ela foi o jeito mais especial e singular de um Deus que resolveu passar por nós e em nós para poder ficar. Penso que não foi por acaso que tendo Cristo Ressuscitado, resolveu passar por dois discípulos em Emaús, e ouve deles: "Fica conosco Senhor!" (Lc 24,29). E o bonito é que realmente Ele fica. Ele sempre fica. Só Ele por meio do Amor, tem essa linda capacidade de passar por nossas dores, nossos sofrimentos e por toda nossa condição humana, para nos revelar que Ele não passa por passar, mas pra ficar. Não passa por nós sem deixar as marcas de sua passagem, os rastros do seu cuidado amoroso. E quando Ele fica "nossos olhos se abrem" (Lc 24,31), e passamos a enxergar a vida inteira com cores de ressurreição. Saboreamos nossa vocação e missão com gosto de ressurreição, com sabor de alegria!

Bem, meu maior desejo para este tempo é que nos convençamos que quando Ele passa tudo realmente se transforma! Tudo se faz novo, pois ... "eis que Ele faz novas todas as coisas " (Ap. 21, 6). Minha prece a Deus, portanto, é que nesta Páscoa, Ele continue passando em nossa história, nossa vida, nossos projetos e sonhos, nossas lutas, nossa vocação e missão, e nos faça contemplar cada realidade a partir dos olhos da Ressurreição! Feliz Páscoa meus irmãos!

EVERTON, catequista.