sexta-feira, 6 de maio de 2011

Dom Odilo aprofunda o tema: Catequistas, discípulos-missionários

No mês de agosto, entre as vocações mais destacadas para a vida e a missão da Igreja, lembramos a dos catequistas, comemorado no último domingo do mês. Eles, de fato, desempenham um papel de importância fundamental na transmissão e na educação para a fé.

A Conferência de Aparecida manifestou um especial reconhecimento pelo trabalho desempenhado pelos muitos milhares de catequistas nas inumeráveis comunidades cristãs da América Latina. Ao mesmo tempo, os bispos latino-americanos reconheceram que, apesar da boa vontade e do esforço dos catequistas, permanecem sérias deficiências na catequese. Os materiais e subsídios catequéticos nem sempre são os mais adequados e o processo catequético, com freqüência, carece do apoio das famílias e mesmo das paróquias. O fato é que muitos e muitos católicos nunca passaram por uma catequese eficaz.

Diante dos desafios atuais para viver a fé, requer-se de nós todos uma identidade católica mais pessoal e bem fundamentada. E o fortalecimento dessa identidade passa por uma catequese adequada, que leve a uma adesão pessoal e comunitária a Jesus Cristo. Graças a Deus, existe uma verdadeira multidão de abnegados catequistas! A catequese, porém, está na responsabilidade direta dos pais, dos bispos e párocos, “principais catequistas”, e de toda a comunidade dos “discípulos-missionários” de Jesus Cristo; infelizmente, nem sempre ela recebe a devida atenção.

A catequese não pode ser apenas ocasional ou voltada à iniciação cristã ou à preparação aos sacramentos, embora esses sejam momentos fortes e ocasiões propícias para realizá-la; mas ela precisa ser progressiva, orgânica e permanente, um verdadeiro itinerário de educação da fé que acompanha a vida inteira; a catequese, de fato, é um caminho progressivo de amadurecimento na vida cristã, que leva ao conhecimento e ao amor sempre mais profundo a Jesus Cristo e à imitação dele. É preciso superar a idéia de que a catequese seja apenas destinada às crianças e adolescentes.

A catequese também não pode limitar-se à mera “instrução” doutrinal, embora essa não deva faltar. A verdadeira catequese precisa levar ao encontro pessoal com o Deus vivo e pessoal, por meio de Jesus Cristo e na comunidade eclesial. A catequese boa ajudará a introduzir os catequisandos nos “lugares” conhecidos do encontro com Deus, como a leitura orante da Palavra de Deus, o exercício da oração pessoal e comunitária, a experiência da participação na vida eclesial, a participação na Eucaristia e nos demais sacramentos, a prática da caridade fraterna e a vida moral coerente com o Reino de Deus anunciado por Jesus. Tudo isso requer um verdadeiro “aprendizado” teórico e prático, onde o testemunho pessoal do catequista tem um papel fundamental.

No Evangelho de São João, encontramos algumas passagens muito ilustrativas do papel do catequista. No chamado dos primeiros discípulos, André já tinha conhecido Jesus e estava entusiasmado por ele; logo foi falar com Simão, seu irmão, dizendo-lhe: “olhe, encontramos o Cristo”. E levou-o até Jesus. Aquele encontro mudou totalmente a vida de Pedro (cf. Jo. 1,41-42). André foi um bom catequista! Também Filipe já conhecia Jesus e estava entusiasmado por ele; encontrando Natanael, Filipe lhe diz: “encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, bem como os profetas”. Natanael duvidou que fosse verdade, mas aceitou o convite de Filipe: “vem e vê”. Também esse encontro foi transformador (cf. Jo. 1, 45-51). Natanael tornou-se discípulo, missionário e mártir de Jesus. Como Filipe, o catequista conhece Jesus Cristo e vive entusiasmado por ele; por isso é capaz de ajudar outros a encontrarem Jesus também.

A missão do catequista também aparece bem ilustrada nas parábolas do tesouro escondido no campo e da pérola preciosa (cf. Mt 13,44-46). Todos, de um jeito ou de outro, estão à procura do verdadeiro bem da vida, que satisfaça plenamente o coração e pelo qual vale a pena investir tudo. S.Francisco compreendia bem, quando exclamava: “meu Deus e meu tudo, és tu o meu único bem”! O “campo” com o tesouro escondido é o reino de Deus e a vida no seguimento de Jesus. O catequista já encontrou esse tesouro e se alegrou por tê-lo achado; por isso sabe como ajudar outras pessoas a encontrá-lo também; sabe acompanhar os irmãos e irmãs na busca de Deus e no itinerário da fé e da vivência cristã. Da mesma forma, tendo encontrado a pérola preciosa, sabe falar bem dela a todos e despertar o desejo de buscá-la também.

Um texto bonito da liturgia na festa dos Apóstolos diz assim: “vossos amigos, Senhor, anunciam a glória do vosso nome!”. Os discípulos são verdadeiros amigos de Jesus Cristo, que os introduz na intimidade com Deus. É muito bonito e estimulante pensar a vida cristã como amizade com Jesus e com Deus A catequese é ação para os verdadeiros amigos de Deus. Os amigos gostam do amigo e falam bem dele aos outros, introduzindo-os nessa amizade também. A catequese eficaz leva à amizade com Deus.

D.Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo