terça-feira, 29 de junho de 2010

Introdução a Ratzinger: A mediocridade das liturgias de hoje

 

   Ratzinger é uma pessoa extremamente equilibrada e cuidadoso nas palavras, mas quando fala da liturgia como é celebrada atualmente, não poupa críticas mordazes: “A banalidade e o racionalismo infantil da liturgia feita por conta própria, com a sua teatralidade artificial, ficam cada vez mais claros na sua ingenuidade; a sua inutilidade se torna patente. A plena autoridade do mistério desapareceu”. Aludindo ao costume, hoje difundido, de aplaudir durante as celebrações, acrescenta: “Ali, onde explode o aplauso à obra humana na liturgia, estamos diante de um sinal seguro que se perdeu completamente a essência da liturgia e se a substituiu por uma espécie de entretenimento de caráter religioso! A liturgia pode atrair as pessoas somente se não olha para si mesma, mas para Deus”.

Já em 1985, ele acusava “o palavreado banal e o infantilismo pastoral que degradam a liturgia católica, reduzindo-a ao nível de círculo de aldeia e a rebaixam ao nível do trivial. Certa liturgia pós-conciliar tornou-se opaca e enfadonha pelo seu gosto do banal e do medíocre, a tal ponto de causar calafrios”.

“Esta liturgia move-se em um mundo de ficção, cuja miséria artificial não pode ser superada nem mesmo pelas patéticas declamações das dores dos povos oprimidos, declamações que não por acaso aparecem como um núcleo comum a todas essas liturgias auto-inventadas” (Introduzione a Ratzinger, por Dag Tessore – Traduzido para o português: Bento XVI. Questões de fé, ética e pensamento na obra de Joseph Ratzinger. Ed. Claridade-Nova Alexandria).

Observação minha: É impressionante, caro Visitante, a lucidez da percepção de Ratzinger! Muitíssimas vezes o que constatamos hoje são umas celebrações litúrgicas que não respeitam nem revelam o Mistério celebrado. E o Mistério da liturgia é um só: Deus que vem a nós em Jesus Cristo, doador do Espírito para a vida do mundo e, assim, faz o homem elevar-se a Ele pelo Cristo morto e ressuscitado na potência do Espírito. Nos ritos, nos gestos, nas palavras, nos símbolos sagrados, que não podem ser inventados a bel-prazer, o Mistério nos é dado, o Mistério nos eleva e transfigura para, através de nós, transfigurar o mundo. Infelizmente, por total ignorância do que seja a liturgia cristã, nossas celebrações tornaram-se um grotesco programa de auditório, no qual a comunidade se auto-celebra, ao invés de fazer-se toda disponível ao Mistério de Deus! Uma liturgia assim cansa, torra a paciência e faz os que dela participam saírem mais vazios do que chegaram. É a liturgia show: show do padre, show do coral, show de um monte de gente fazendo um monte de coisas pra lá e pra cá... Só não se faz o essencial: não se está atento ao Mistério, não se contempla, não se abisma na beleza amorosa de Deus, revelada na face bendita de Cristo. Mas, sem liturgia verdadeira, não existe Igreja, não existe vida cristã! Sem liturgia genuinamente cristã, a Igreja torna-se uma ONG, o cristianismo, uma ideologia insossa e politicamente correta, e a vida cristã uma chatura moralizante, um verdadeiro porre!

Fonte: blog do Dom Henrique.

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