segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reforma na reforma litúrgica




Caro Visitante, olhe só esta entrevista com Dom Malcolm Ranjith, novo Secretário da Congregação do Culto Divino sobre a necessidade de arrumar a bagunça litúrgica da Igreja atual. Este Bispo foi escolhido a dedo pelo Santo Padre Bento XVI. Quanto a entrevista, foi dada ao jornal francês, La Croix, de 25 de junho deste ano. Não tenham dúvidas! Teremos sérias reformas na liturgia da Igreja!



A impressão é que para Bento XVI a liturgia é uma prioridade.
Exatamente. Quando se examina a história de liturgia através dos séculos, vê-se o quanto é importante para cada homem a necessidade de escutar Deus e de comunicar-se com o Além. A Igreja sempre foi consciente que a sua vida litúrgica deve ser orientada para Deus e deve comportar uma atmosfera profundamente mística. Ora, há alguns anos existe uma tendência de esquecer essa realidade, para substituí-la por um espírito de liberdade total, que deixa todo espaço à invenção, sem base nem aprofundamento.

Foi por isso que a liturgia tornou-se objeto de polêmica, de discussões dentro da Igreja, sendo até mesmo causa de graves divisões?
Penso que este seja um fenômeno propriamente ocidental. A secularização no Ocidente trouxe consigo uma grande divisão entre aqueles que se refugiam no misticismo, esquecendo a vida, e aqueles que banalizam a liturgia, privando-a da sua função de mediadora em relação ao Além. Na Ásia – por exemplo, no Sri Lanka, o meu país – todos, seja qual for sua religião, têm consciência da necessidade do homem de ser conduzido para o Além. E isso deve traduzir-se na sua vida concreta. Penso que não se deve abaixar o sentido do divino ao nível do homem, mas, pelo contrário, procurar elevar o homem para o nível sobrenatural, ali onde podemos nos aproximar do mistério divino. Ora, a tentação de nos tornar protagonistas desse mistério divino, de procurar controlá-lo é forte em uma sociedade que idolatra o homem, como faz a sociedade ocidental. A oração é dom: a liturgia não é feita pelo homem, mas por Deus que a faz nascer nele. Ela implica uma atitude de adoração para com o Deus criador.

Há a sensação que a reforma conciliar foi levada longe demais?
Não se trata de ser ante-conciliar ou pós-conciliar, conservador ou progressista! Creio que a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II nunca decolou. Além do mais, essa reforma não foi iniciada com o Vaticano II: na realidade, ela é precedente ao Concílio; nasceu com o movimento litúrgico, no início do século XX. Se alguém se detiver ao decreto “Sacrosanctum Concilium”, do Vaticano II, ali se tratava de fazer da liturgia o caminho de acesso à fé, e as mudanças sobre o tema deveriam surgir de modo orgânico, levando em conta a tradição, e não de modo precipitado. Houve inúmeros desencaminhamentos, que fizeram perder de vista o sentido autêntico da liturgia. Pode-se dizer que  a orientação da oração litúrgica na reforma pós-conciliar não foi sempre o reflexo dos textos do Vaticano II. E neste sentido, pode-se falar de uma correção necessária, de uma reforma na reforma. É necessário retornar à liturgia no espírito do Concílio.

Concretamente, através de quais passos?
Hoje, os problemas da liturgia giram em torno da língua, latina ou moderna e da posição do padre, voltado para os fiéis ou voltado para Deus. Isso pode surpreender: em nenhuma passagem, no decreto conciliar, se estabelece que o padre deve voltar-se para os fiéis, nem que é proibido utilizar o latim! Se o uso da língua corrente é consentido, de modo particular para a liturgia da Palavra, o decreto precisa também que o uso da língua latina deve ser conservado no rito latino. Sobre tais matérias estamos esperando que o papa nos dê as suas indicações.

Será necessário dizer a todos aqueles que seguiram, com grande sentimento de obediência, as reformas pós-conciliares, que eles se enganaram?
Não. Não é necessário fazer disso um problema teológico. Observo quanto os padre jovens gostam de celebrar segundo o rito tridentino. É preciso deixar claro que este rito, aquele do missal de São Pio V, não é fora da lei. É necessário encorajá-lo mais? É o papa quem decidirá. Mas, é certo que uma nova geração está à espera de uma maior orientação para o mistério. Não é uma questão de forma, mas de substância. Para falar de liturgia não é necessário somente um espírito científico ou histórico-teológico, mas, sobretudo, uma atitude de meditação, de oração e de silêncio. Uma vez mais: não se trata de ser progressista ou conservador, mas simplesmente de permitir ao homem que reze, escute a voz do Senhor. O que acontece na celebração da glória do Senhor não é uma realidade puramente humana. Se alguém esquece esse aspecto místico, tudo se obscurece e torna-se confuso. Se a liturgia perde sua dimensão mística e celeste, quem, então, ajudará o homem a libertar-se do egoísmo e da própria escravidão? A liturgia deve ser antes de tudo um caminho de libertação, abrindo o homem à dimensão do infinito.



Fonte: Blog Dom Henrique Soares

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